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Não confunda sorte com boa estratégia

Não confunda sorte com boa estratégia

24/08/2025 - 02:18
Giovanni Medeiros
Não confunda sorte com boa estratégia

No cotidiano pessoal e profissional, frequentemente celebramos eventos bem-sucedidos sem analisar a fundo suas causas. Será que aquele resultado extraordinário veio apenas do acaso ou foi fruto de um planejamento cuidadoso? Aprender a separar eventos aleatórios de decisões calculadas é essencial para quem busca crescimento sustentável e coerente.

1. Definição e diferenças entre sorte e estratégia

Sorte é, via de regra, um acontecimento fortuito e fora do nosso controle, capaz de gerar benefícios inesperados sem qualquer planejamento prévio. Por exemplo, ser indicado para uma vaga de emprego pela simples coincidência de ter conversado com alguém no elevador não representa um processo estruturado.

estratégia se refere a um conjunto de ações planejadas visando metas específicas. Ela envolve análise de cenários, definição de objetivos claros e estabelecimento de métricas para monitorar resultados. Diferentemente da sorte, a estratégia pode ser replicada e ajustada conforme lições aprendidas.

2. O papel da probabilidade e o erro de julgamento

Ao avaliarmos resultados, é fundamental considerar a probabilidade de sucesso. Um único desfecho positivo pode mascarar os riscos envolvidos, levando ao equívoco de acreditar que a decisão foi brilhante quando, na verdade, foi apenas sorte.

A lei dos grandes números demonstra que, em séries longas de experimentos, os resultados tendem à média esperada. Se investirmos repetidamente em uma estratégia fundamentada em análise de dados, veremos resultados consistentes ao longo do tempo. Depender exclusivamente do acaso, por outro lado, gera oscilações imprevisíveis e comporta alto índice de fracasso.

3. Exemplos ilustrativos

No universo dos investimentos, lançar uma moeda repetidamente pode até trazer lucros pontuais, mas não oferece nenhum controle sobre a probabilidade de ganho. Já um investidor que estuda balanços, diversifica portfólios e monitora o mercado com disciplina tende a obter retornos mais estáveis.

Em jogos de tabuleiro conhecidos, como Puerto Rico, Russian Railroads e Terra Mystica, o papel da estratégia é predominante. Jogadores experientes raramente são derrotados por novatos, pois dominam as regras, antecipam movimentos e maximizam recursos.

4. O conceito de “sorte inteligente” (Smart Luck)

Paul J.H. Schoemaker apresenta o conceito de “sorte inteligente” como a capacidade de criar condições favoráveis para que a sorte ocorra com mais frequência. Isso não elimina o acaso, mas maximiza a chance de eventos positivos.

Os pilares do Smart Luck envolvem:

  • Preparação: estudar profundamente o contexto e as variáveis envolvidas;
  • Percepção das oportunidades: estar atento a sinais sutis que podem indicar um momento promissor;
  • Ação diante de imprevistos: reagir rapidamente a eventuais aberturas;
  • Aprendizado contínuo: analisar resultados e ajustar o processo decisório.

Ao implementar essas práticas, ampliamos a probabilidade de sermos agraciados por eventos positivos por meio de preparação e minimizamos o impacto de fatores aleatórios.

5. Riscos de confundir sorte com estratégia

Celebrar apenas o resultado favorável sem avaliar o método empregado pode gerar o viés do sobrevivente. Pessoas e empresas que atribuem êxito exclusivamente à sua competência esquecem de considerar o papel do acaso, o que aumenta a autoconfiança infundada e favorece decisões precipitadas no futuro.

Quando uma escolha que deu certo por pura sorte é incorporada ao conjunto de práticas regulares, corre-se o risco de perpetuar um processo ineficaz e insustentável. Ao longo do tempo, a volatilidade dos resultados tende a expor essas falhas, acarretando perdas consideráveis.

6. Como aplicar a estratégia e aproveitar a sorte a seu favor

Para transformar a sorte em um complemento à estratégia, siga estas diretrizes:

  • Defina metas claras e métricas de avaliação.
  • Realize pesquisas e análises antes de tomar decisões.
  • Documente processos e resultados para criar um banco de dados histórico.
  • Revise periodicamente sua abordagem, incorporando lições aprendidas.

Além disso, mantenha uma postura aberta: cultive redes de contatos diversificadas, participe de eventos e esteja pronto para agir quando surgir uma oportunidade inesperada e relevante.

7. Conclusão

Não podemos controlar todos os aspectos da vida, mas podemos estruturar nossas ações para obter vantagens previsíveis. A estratégia consciente é o alicerce que sustenta o sucesso recorrente, enquanto a sorte funciona como um catalisador: desejável, mas não substituta do preparo.

Ao reconhecer e valorizar o valor de uma abordagem planejada, você reduz a dependência do acaso e se coloca em posição de aproveitar cada chance com maior eficácia. Cultive a sorte inteligente e transforme cada conquista em um reflexo de competência real e replicável.

Giovanni Medeiros

Sobre o Autor: Giovanni Medeiros

Giovanni Medeiros